....7 things to unlearn with Paulo Mendes da Rocha..7 ideias a desaprender com Paulo Mendes da Rocha....
monade — Daniela Sá
....1. Art is no longer to be made mysterious..1. A arte não é mais para ser feita como mistério....
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Concrete technique is always malleable to creation. It is the most appropriate material to solve the problem of modern space. Moreover, the builders who work with me on these constructions simply conclude that they could do it too. This awareness that art is no longer to be made mysterious (a world apart and misunderstood by all) is part of a certain philosophy. Concrete constructions, simple and essential, show that architecture can and should also relate to the people.
Concrete House in Designed Future or Selected Writings by Paulo Mendes da Rocha
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A técnica do concreto [betão armado] é sempre maleável à criação. É o material mais apropriado para resolver o problema do espaço moderno. Além disso, os operários que trabalham comigo nessas construções concluem simplesmente que poderiam fazer igual. Faz parte de uma certa filosofia esse entendimento de que a arte não é mais para ser feita como mistério (um mundo apartado e incompreendido por todos). As construções de concreto, simples e essenciais, mostram que a arquitetura também pode e deve se relacionar com o povo.
Uma casa concreta in Futuro Desenhado ou Textos Escolhidos de Paulo Mendes da Rocha
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....2. We only imagine what we are able to do..2. Só se imagina aquilo que se sabe fazer....
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It’s impossible to imagine formations and formal transformations if you don’t know how to do them. Even if you can’t carry them out to the end, not being fully competent in the structural calculations and specific knowledge, you know that this is possible because you think with the ingenuity you have. You don’t think of forms as being autonomous or independent of a factory vision of those forms themselves. You think as one who is making the thing, not sketching it.
Architecture as a particular way of mobilizing knowledge, in Designed Future or Selected Writings by Paulo Mendes da Rocha
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É impossível imaginar conformações e transformações formais se não souber como se pode realizá-las. Mesmo que não seja competente para realizá-las até o fim, nos cálculos estruturais e no emprego de conhecimentos específicos, você sabe que aquilo é possível, porque raciocina com a engenhosidade possível. Não se raciocina com formas autônomas ou independentes de uma visão fabril delas mesmas. Você raciocina como quem está fabricando a coisa, e não riscando.
Arquitetura como uma forma peculiar de mobilizar o conhecimento, in Futuro Desenhado ou Textos Escolhidos de Paulo Mendes da Rocha
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....3. Architecture is aimed at doing..3. A Arquitectura destina-se ao fazer, não ao ver....
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It is necessary to remember that, like someone trying to choose just the right words for an epigraph, Architecture is aimed at doing rather than seeing, realizing rather than simply surprising, with the concreteness of the relationship between reasoning and freedom.
Concrete House in Designed Future or Selected Writings by Paulo Mendes da Rocha
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Lembro, como quem escolhe o essencial para compor uma epígrafe, que a arquitetura se destina ao fazer e não ao ver; realizar e não simplesmente espantar, com a concretude dessa relação entre a racionalidade e a liberdade.
A cidade para todos in Futuro Desenhado ou Textos Escolhidos de Paulo Mendes da Rocha
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4. Nature is not a mother..4. A Natureza não é mãe....
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As in Tom Jobim’s song, “From the window you can see the Corcovado, the Redeemer, how beautiful!”, you already pre-suppose an apartment in Copacabana, for example. What window is he talking about? Landscape is only beautiful because behind us there’s a breeze, voices and pans cooking beans, a water tank and washing on the line. This is the place that shelters the abyss from the window through which one can see a landscape and consider it beautiful. Because for someone lost on the beach like a castaway, no bay is beautiful. Or maybe it could be beautiful through the hope that some ship would come and save us from this magnificent landscape that has forsaken and could kill us. […] Therefore, nature is not a mother, but a set of phenomena that must be faced by the human race.
Architecture as a Particular Way of Mobilizing Knowledge and Desires, Today in Designed Future or Selected Writings by Paulo Mendes da Rocha
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“Da janela vê-se o mar...” ou “Da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo!”, como está na canção do Tom Jobim, você já supõe um prédio de apartamento em Copacabana, por exemplo. Pois de que janela ele está falando? A paisagem só é bela porque atrás de nós há uma brisa, vozes e panelas com feijão no fogo, tanque com água e roupa lavada no varal do fundo. É esse o lugar que ampara o abismo da janela através da qual se pode ver uma paisagem e considerá-la linda. Porque, para alguém perdido na praia como um náufrago, nenhuma baía é linda. Ou então talvez pudesse ser linda enquanto esperança de que chegasse um navio para nos salvar dessa magnífica paisagem que nos desampara, e que pode nos matar. […] Portanto, a natureza não é mãe, mas um conjunto de fenômenos que devem ser enfrentados pelo gênero humano.
Arquitetura como uma forma peculiar de mobilizar o conhecimento e Os desejos, hoje in Futuro Desenhado ou Textos Escolhidos de Paulo Mendes da Rocha....
....5. Each of us begins everything..5. Cada um de nós começa tudo....
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I have hope, I have optimism. It’s the dimension within the force that history has already shown us, the force that exists in popular culture. We are not ready, and we do not wish to be ready. We count on this eternal incompleteness. We’re born and know we’re going to die. And why don’t we get discouraged? What is this enthusiasm? It’s the certainty that we are not born to die; we are born to begin. Each of us begins everything. We are the sum of knowledge, all experience and history only exists in those who are alive at the same time.
Engendering the Human in Designed Future or Selected Writings by Paulo Mendes da Rocha
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Eu tenho esperança, tenho otimismo. É a dimensão contida na força que a história já mostrou para nós, que é a força que existe na cultura popular. Nós não estamos prontos, e não desejamos estar prontos. Contamos com esse eterno inacabamento. Você nasce e sabe que vai morrer. E por que você não fica desanimado? O que é essa animação? É essa certeza de que não nascemos para morrer; nascemos para começar. Cada um de nós começa tudo. Nós somos a totalidade do conhecimento, toda a experiência e a história só existem nos que estão vivos ao mesmo tempo.
Engendrando o Humano in Futuro Desenhado ou Textos Escolhidos de Paulo Mendes da Rocha
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....6. Horror lies in the destruction of technique..6. O horror está na destruição da técnica....
....Well, look, Guernica, as well as showing indignation about war and destruction – the woman with the blown up child, the donkey with her belly ripped open, and so on, also has a side no one talks about. There’s a lamp there. As if saying: among other malignities, they also destroyed this small village’s electric light. This is, in essence, the great crime of fascism. The great horror in the painting that Picasso painted and called Guernica is to see the destruction of the light, because in a dark shack, when a child cries at night, the mother doesn’t know if it’s hungry or being eaten by a snake, a bear or worse. And yet, today you can turn on the light, open the refrigerator, take out the baby’s bottle, warm it up on the stove, etc. Life changes, and those bastards were bombarding the electric light.
The Ever Unsatisfied Desire in Designed Future or Selected Writings by Paulo Mendes da Rocha
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Pois vejam que a Guernica, já tão comentada também quanto à indignação pela guerra, pela destruição – a mulher com a criança explodida, o burro com a barriga arrebentada etc. –, tem um lado do qual ninguém fala. Há uma lâmpada ali. Como quem diz: entre outras malignidades, destruíram também a luz elétrica, que aquela pequena aldeia já possuía. Esse é, no fundo, o grande crime do fascismo. O grande horror estampado no quadro que Picasso pintou e chamou de Guernica é ver a destruição da lâmpada, porque numa cabana escura, quando uma criança chora à noite, a mãe não sabe se é fome ou se ela está sendo comida por uma cobra, um urso ou coisa pior. E, no entanto, hoje você pode acender a lâmpada, abrir a geladeira, tirar uma mamadeirinha, pôr no banho-maria etc. A vida muda, e aqueles desgraçados estavam bombardeando a luz elétrica.
O desejo sempre insatisfeito in Futuro Desenhado ou Textos Escolhidos de Paulo Mendes da Rocha
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....7. You have to make yourself say: “I know!” And if you don’t, who does?..7. Você tem de se obrigar a dizer: “Eu sei!”. Se você não souber, quem sabe?....
....You are either born a revolutionary or will never be one. By revolutionary I don’t mean the guy who straps a bomb to himself and goes into a school and kills all the children; that’s an idiot. You have to make yourself say: “I know!” And if you don’t know, who does? It is easy to say “No, that some other guy knows.” Only he who asks knows. Those who don't know don't even ask; don't even know what to ask. So, what we are talking about here is the possibility of trying to show something whilst working within that confused and erratic context. It is about a building, on the small scale, endeavouring as much as possible to be a city.
Civitas São Paulo in Designed Future or Selected Writings by Paulo Mendes da Rocha
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Ou você é um revolucionário nato ou não será nunca. Revolucionário não é aquele que amarra bomba na cintura, entra na escola e mata todas as crianças; isso é um estúpido. Você tem de se obrigar a dizer: “Eu sei!”. Se você não souber, quem sabe? É fácil você dizer “Não, que quem sabe é o outro lá”. Quem pergunta é o que sabe. Quem não sabe não pergunta; não tem nem o que perguntar. Portanto, aquilo de que se fala aqui é da possibilidade de, trabalhando nesse contexto confuso, errático, tentar mostrar alguma coisa. Trata-se de, no edifício, na sua pequena escala, tentar ser cidade o mais possível.
Civitas São Paulo in Civitas São Paulo
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